OLHOS CASTANHOS

A coincidência pode não ter face, mas tem olhos. Olhos castanhos.

OLHOS CASTANHOS

Era início de noite e eu já não esperava mais nada. Estava lá, sozinha, aproveitando a loucura que me sugava pra dentro de mais um copo de chopp. Foi então que o acaso se fez corpo. A coincidência me deixou sóbria de tudo, apagando toda a noite que vivi antes de me encontrar com aqueles olhos castanhos.
Eram os mais expressivos que já vi. Antes mesmo de piscar, vi dentro deles a primavera me convidando pra brincar.
Quem era o dono daqueles olhos que, tão atrevidos, me roubaram a razão?
Olhos castanhos do mais puro e doce mel, escorrendo provocante até a boca que me sorria sem parar.
Naquela hora eu já sabia que não responderia por mim. Eram só os olhos castanhos.
Aqueles olhos que me despiam no meio de 100.000 pessoas sem que eu pudesse recusar. Ao contrário, eu queria. Como eu queria!
Não precisou mais que o sangrar de uns minutos e já éramos língua, saliva, abraço, ideia.
Quanto mais eu tinha, mais eu queria me fartar daquilo. Lambuzar os sentidos sem limite. Todos eles. O gosto, o cheiro, o toque, o sussuro e ah, aqueles olhos castanhos.
Já não sei mais o que é paz depois que os vi.
Eles me seguem, curiosos, pelas horas vazias dos beijos que deixei partir.
Ah, aqueles olhos castanhos. Onde estarão se não olhando pra mim?